domingo, 30 de setembro de 2012

O SAGRADO E O PROFANO (MIRCEA ELIADE)

TRECHOS COPIADOS DO LIVRO "O SAGRADO E O PROFANO" DE MIRCEA ELIADE: " A manifestação do sagrado funda ontologicamente o mundo. Na extensão homogênea e infinita onde não é possível nenhum ponto de referência, e onde, portanto,nenhuma orientação pode efetuar-se, a hierofania revela um "ponto fixo" absoluto, um "Centro".(26) "Para viver no mundo é preciso fundá-lo - e nenhum mundo pode nascer no "caos" da homogeneidade e da relatividade do espaço profano. A descoberta ou a projeção de um ponto fixo - o Centro - equivale à Criação do Mundo..." (pg. 26). " Seja qual for o grau de dessacralização do mundo a que tenha chegado, o homem que optou por uma vida profana não consegue abolir completamente o comportamento religioso." (pg. 27) " Nessa experiência do espaço... locais privilegiados, qualitativamente diferente dos outros: a paisagem ou o sítio dos primeiros amores...Todos esses locais guardam, mesmo para o homem mais francamente não-religioso, uma qualidade excepcional,...são os "lugares sagrados" do seu universo privado..." (pg. 28) " O limiar que separa os dois espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os dois modos de ser, profano e religioso. ( Mircea Eliade expõe a aqui a idéia de portais, umbrais onde acontecem os rituais de passagem". (pg 29). " No interior do recinto sagrado, o mundo profano é transcendido... Nos níveis mais arcaicos de cultura, essa possibilidade de transcendência exprime-se pelas diferentes imagens de uma abertura: lá, no recinto sagrado torna-se possível a comunicação com os deuses; consequentemente, deve existir uma "porta" para o alto, por onde os deuses podem descer à Terra e o homem pode subir simbolicamente ao Céu." (pg.29) " ... o homem religioso recebe a revelção de um lugar sagrado... as hierofanias anularam a homogeneidade do espaço e revelaram um "ponto fixo" ( em algum momento, Mircea Eliade exemplifica a cruz para simbolizar a revelação de uma terra descoberta por cristãos e a cruz simboliza um ponto fixo para os cristãos) (pg.31) " ... o sagrado é o real por excelência, ao mesmo tempo poder, eficiência, fonte de vida e fecundidade." (pg. 31) " Na realidade, o ritual pelo qual o homem constrói um espaço sagrado é eficiente à medida que ele reproduz a obra dos deuses". Pg.32). "... logo nos daremos conta de que o "mundo" todo é para o homem religioso, um "mundo sagrado". (pg. 32). ref.: Eliade, Mircea O sagrado e o profano: a essência das religiões Tradução: Rogério Fernandes - segunda edição - São Paulo: Martins Fontes, 2008.

domingo, 16 de setembro de 2012

alquimia

ALQUIMIA E CRESCIMENTO

A partir de experiências simbólicas consigo trabalhar, através de meu imaginário, conteúdos muito profundos e dificilmente atingidos pela palavra. A trilha que escolhi foi a Alquimia. Jung, além de estudioso em diversas ciências da alma, durante 15 anos estudou profundamente a Alquimia. Sua compreensão era de que este era um dos caminhos para o auto-conhecimento. A pessoa que relata agora teve contato com princípios da Alquimia aos 11 anos de idade, de forma totalmente espontânea, tendo como bússola somente a intuição. Estou com 59 anos de idade e a Alquimia tem sido um verdadeiro caminho terapêutico na minha vida. Não tenho conhecimento teórico da área. Apenas experimentei coisas que depois percebi que em tudo remetia ao processo alquímico. Percebo a cada dia que muitas áreas de nosso inconsciente são alcançáveis pela palavra. A palavra, parece-me, surgiu num momento muito mais elaborado da vida do ser humano. Em contraponto, temos partes tão arcaicas dentro de nós mesmos que a palavra não as alcança. E por ser simbólica, portanto, mais abrangente do que a palavra, é aí que a alquimia atinge. Meus primeiros ensaios, aos 11 anos, aconteceram com o fogo, queimando papéis onde coloquei muito do meu sofrimento de pré-adolescente nascida em uma família complexa. Senti uma espécie de liberação ao ver o fogo queimando minha angústia e a partir de então descobri esta válvula e este processo como “meu”. Posteriormente, descobri que mesmo com o conhecimento teórico absolutamente ausente no meu processo, este caminho que percorria já tinha sido vivido por muitos. Encontrei hoje um trecho de um texto que penso que é do Junguiano Schwartz Salant. Não sei de onde foi tirado , mas resolvi copiar ou em alguns momentos comentar a fala do mestre psicanalista. Em uma referência à psicoterapia, fala em "campo" como o campo de interação entre analista e analisando, comparando com a idéia alquímica de "corpo sutil". Descreve um paralelo entre conhecimentos da física e o que acontece numa terapia, tentando uma simplificação para o que ele coloca. Do texto: (...) "com certeza a minha idéia de um campo interativo deve muito aos estudos de Jung. O seu modelo quaternário mostra a mesma estrutura dos diagramas de energia da física, os quais indicam uma notável capacidade de transferência de informações entre moléculas que estão em contato umas com as outras. Inúmeros níveis de energia em uma molécula podem mudar e produzir mudanças em outras moléculas. A implicação psicológica deste paralelo é que mudanças no inconsciente do analista , por exemplo, tem um efeito não só na percepção consciente do analisando, como também no seu inconsciente". Esta mesma percepção é evidente 400 anos no texto "Splendor Solis" (McLena, 1981) no qual estados aparentemente separados afetam uns aos outros num complexo padrão de transferência de informações. Imagino que o mesmo acontece em todo o campo das relações humanas e que uma mudança que ocorra em mim, provoca automaticamente uma mudança no outro. O que pretendo é mostrar que uma experiência intuitiva de vivência de conteúdos através de simbolização e que em muito lembra a alquimia pode ser uma forma de crescimento que, através da consciência de processo, provoca mudanças profundas em nós mesmos e terá reflexo em todos aqueles que nos cercam, pois que participamos todos de um mesmo "campo" quando nos relacionamos com o outro. Continuando com Salant: " (...), se reconhecemos que o universo alquímico era aquele no qual áreas normalmente invisíveis... funcionavam frequentemente como intermediárias entre o experimentador e o seu objeto e que estas áreas eram os objetos de transformação ... áreas que não eram nem materiais nem mentais, mas participavam de ambas". Entendo que esta experiência de campo é compartilhada por seres humanos, tanto física quanto psiquicamente. A meu ver, faz-se necessário que o ser que deseja transformar aspectos de uma relação consigo mesmo ou com o outro através de um trabalho de simbolização, de teatralização, se identifique com os processos que trabalha, lembrando aqui que falo de alguns modelos desenvolvidos por mim e que mostro e proponho neste blog. Somente com muita humildade posso viver um caminho que está descolado da ciência e do racionalismo proposto por nossa cultura. Sinto que é preciso desistir, dia a dia, da minha roupa velha, da minha velha personalidade e penetrar recantos de mim, abrindo mão da segurança e me permitindo conversar com níveis caóticos de minha psique.

ALQUIMIA

A cada dia fico mais convencida de que a alquimia é um caminho muito rico para atingirmos o SELF. O caminho que tenho percorrido e que venho compartilhando através deste blog é absolutamente intuitivo e desprovido de qualquer intenção maior além de tentar dividir a experiência vivida intensamente. Lendo um texto de Schwartz Salant, famoso junguiando, consigo agora explicar algo que não conseguia expressar até aqui. Ele revela que a experiência alquímica nas relações humanas cria um "campo", semelhante a um campo magnético, onde qualquer mudança no movimento molecular a partir de um ponto, provoca mudança no campo inteiro. Serve de apoio, a emu ver, para uma simbolização que adaptei de um livro de uma xamã que tenho usado e indicado sempre e acrescentado mudanças na experiência. Em resumo, esta experiência se refere a você, representado por uma vareta qualquer e que você segura, amarra um fio e na outra extremidade amarra o objeto para com o qual você deseja transformar seus sentimentos e reações em sua relação interna ou externa. Exemplificando com o modelo dado pela xamã em seu livro: a jornalista que escreveu um livro sobre uma comunidade indígena da fronteira entre os Estados Unidos e Canadá, após concluir o livro sobre sua experiência vivida entre elas, após a publicação, volta à comunidade para apresentá-lo às sábias e antigas mulheres. A mais velha então, recomenda para que a jornalista amarre fitas em seu livro e deixe-o assim, amarrado com fitas que ficam com as pontas livres e que voam contra o vento para que o vento leve o livro, seu conteúdo e o desprenda da autora como um filho deve se desprender de sua mãe, com o corte do cordão umbelical, ficando livre para poder crescer. Enquanto a autora estiver presa ao livro, ele não conseguirá crescer. Acho uma metáfora belíssima e resolvi usá-la para desprender-me de coisas e vínculos interpessoais que estejam me prendendo à minha própria sânsara. Quando adotei esta simbolização como uma forma de minha alquimia muito rudimentar, na qual busco sempre resentações extremamente primitivas para meu processo de crescimento, confesso que minha vida tem passado por um processo de transformação muito rico e lindo! Como construi meu processo, a partir do que li no livro de Lyn Andrews: Uso duas varetas: com uma represento a mim mesma e condicionei-me a manipular tal vareta com a mão esquerda. Amarro nesta vareta um fio qualquer e na outra extremidade amarro a outra vareta, representando o objeto com o qual desejo atingir a transformação. Pode ser um objeto qualquer (uma casa da qual quero me desprender para vender, por exemplo) ou uma pessoa, cujo vínculo que nos une está passando por um desgaste indesejável, com características obecessiva e carregada de ressentimento. Uso alguma coisa em baixo que possa receber o material para que possa ser queimado. Tenho um velho caldeirão de ferro que é muito próximo da imagem de um caldeirão de bruxas de meu quadro imagético. Apoio a fita nas bordas do caldeirão ficando a vareta que me representa à minha esquerda e a outra à direita. Queimo então o meio da fita, desejando que o fogo rompa esta face indesejável deste vínculo, e que o fogo, que depois queimará o conjunto que utilizei transforme, através da combustão, este vínculo e que faça uma catarse libertando este conjunto para que fique apenas o que é bom deste vínculo. Até há poucos dias, pendurava o outro numa árvore para que ele fosse com o vento libertado e fosse feliz em seu percurso. Por alguma mudança intuitiva, resolvi queimar o conjunto todo: a vareta que me representa com o resto da fio que fica após a queima que separou as varetas e a vareta que representa o outro com seu resto de fio que representa o resto deste vínculo indesejável que quero trasnformar. Conclui, nesta mudança, que o fogo deve nos trasnformar: a mim mesma e ao outro, juntmente com nossos fios para que possamos crescer e evoluir. Tenho gostado do resultado e recomendo, mas sempre lembrando que cada um de nós tem seu mestre próprio e deverá fazer da forma que lhe for mais confortável e prazerosa. Em termos físicos, embora seja uma analfabeta confessa em tudo, tanto em alquimia quanto em física, mas já com a independência de quem acha que já viveu o bastante para validar suas próprias escolhas e até compartilhá-las, penso que o movimento molecular que for modificado a partir e dentro de mim mesma, causará com certeza uma mudança neste "campo" existente entre mim e o outro e todos seremos atingidos, mesmo o que estiver no entorno e fora deste "campo". Acho importante o uso de ferramentas que se fixem dentro destes rituais: utilizo sempre o mesmo caldeirão, por exemplo, quando vou utilizar o fogo como meio para a catárse. Dentro do processo alquímico o fogo (combustão) é o primeiro passo para transformar meu metal não-nobre em "ouro", o ouro alquímico, que é o caminho dentro de cada um para atingir a libertação da sânsara que aprisiona cada um de nós. É o caminho de cada um para a iluminação. A humanidade tem necessidade dos ritos para crescer. Os ritos são como ícones de um computador que abre o link desejado, metaforizando com a nova linguagem dos homens. Atingimos melhor áreas primitivas do cérebro com os ritos do que com a palavra, porque eles são muito anteriores à palavra porque são arquétipos. Sobre o FIO: O fio utilizado no ritual, penso, remete ao fio de Ariadne, da Mitologia Grega. Vou fazer uma busca neste blog para republicar este mito, sobre o qual acho que já fiz citação. É um mito lindo e muito importante que mostra que o fio de Ariadne é o fio que nos mantém sãos durante nossa viagem por nossos labirintos (inconsciente) quando vamos ao encontro do nosso MINOTAURO pessoal.