quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Foi assim,
apenas um gesto, um gosto.
Foi tanto tempo e o meu tempo não significou em ti.
Tive medo de saber, de descobrir, de descortinar...não tive como proteger.
Ressentimento do tempo perdido. O que não transformou, não aconteceu, não viveu, não sentiu mentiras apenas, fantasias.
Foi só uma "performance".
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
-Velho, eu não quero escrever como se psicografasse. Como vou explicar aos meus amigos que até me respeitam que converso com um fantasma!
-Para de reclamar e anota o que vou falar. Eu quero participar deste momento. Tenho direito.
-Um fantasma marxista-leninista falando comigo? Isso é o cúmulo da incoerência. E o materialismo, velho?
-Mas você não pode contar pra ninguém que sou eu. Vou ficar desmoralizado.
-E como é que você pensa que me sinto? Também sou materialista, lembra?
-Escreve aí, depois a gente combina alguma coisa. Morri em 76. Cai nesta situação constrangedora porque fico aqui vendo o mundo passar, somente contigo consigo conversar e vejo a história escorrendo pelos dedos destes vivos que não aproveitam o tempo que lhes resta. Não posso me omitir. Anote. Quero falar sobre o "Mensalão". Tenho que deixar minha opinião.
-Tu estás morto, cara! Tens que cair na real. Quem vai se interessar pela opinião de um membro do Partido Comunista que morreu em 76?
-Anota. Deixa de ser chata!
Você sabe que por muito tempo fui o responsável pelo dinheiro que o Partido recebia da Rússia. Sabe que eu recebia maletas de dólares e que jamais usei um tostão para mim. Você lembra da miséria que vivi naquele horrível período em que o Partido ficou sem se comunicar comigo. Quase todos foram morar no leste europeu e eu fiquei aqui, na miséria, lembra? Não guardei um tostão nem para as emergências que vivíamos na clandestinidade. De repente os contatos desapareceram e aí nós passamos fome.
Não consegui sobreviver muito tempo. Desespero, fome, medo de que me encontrassem, que fizessem algum mal à minha família. Não importa. Eu quero registrar minha perplexidade com o que vejo agora no Brasil. Assisti a este processo que chama de "Mensalão" ao teu lado. São tantos lados, tudo misturado. Fico enojado com estes desgraçados que usam o serviço público para roubar.
Aí vem o PT que criou esta estrutura frágil e louca, com uma certeza dos loucos de que nunca seriam descobertos. Um projeto de poder. A classe operária chegou ao poder. E se espelham nos padrões dos patrões? Se sentiram acima do bem e do mal. Acredito que alguns não usaram o dinheiro para fins pessoais. Quer saber? Não acredito nesta pose de Maquiavel. Achar que se pode posar de Robin Wood num mundo tão complexo? E quem pode provar que neste projeto de poder só há a pureza de Dom Quixote?
-Velho, meu sono chegou. Boa noite.
-Continua a mesma pequeno-burguesa de merda.
-Vai catar alguma comunista pra te traduzir e me deixa dormir.
domingo, 16 de dezembro de 2012
TRAGÉDIA EM ESCOLA NOS ESTADOS UNIDOS
A velha ficou chocada com a notícia.
Que horror! Por que este louco atacou crianças tão pequenas?
Nos meus 91 anos, jamais imaginei tamanha tragédia.
A velha brasileira já levou tanta lambada da vida, mas nada a comove mais do que qualquer violência contra crianças.
Ela se emocionou e ficou triste o dia todo, no dia seguinte e no outro dia ficou comovida com a cerimônia ecumênica pelas vidas ceifadas. Vinte crianças, seis adultos e mais o maluco que se matou... sei lá. De qualquer maneira, era o que esse jovem queria: o último ato.
Ela tem noventa e um anos e ainda não entende porque estas tragédias são mais comuns nos EUA e nos outros países, até parece uma tentativa de imitar essa loucura dos norte americanos. A velha não consegue ficar indiferente, mesmo com 91 anos. Se coloca no lugar dos pais, lembra de quando seus filhos eram pequenos e corriam livres pelo sítio onde viviam. Havia uma violência aceita contra as crianças já naquela época. Era uma violência a fome que sentiam, as surras absurdas e os castigos degradantes que o pai usava contra os pobres coitados. Sempre odiou o marido pelos maus tratos aos pequenos. Mesmo assim sobreviveram e ela nunca teve que temer um franco atirador que os tirasse dela.
Ela viu pela TV toda a cerimônia e achou mesmo lindo o rabino entoando um hino.Não entendia as palavras, mas era um canto muito triste. Um menino islâmico com seu cântico e todos estavam muito comovidos e ela também ficou tocada.
De repente lembrou que nunca assistiu a nada tocante com as crianças que morrem todos os dias nos lugares violentos e tristes do mundo, na África, no Oriente Médio... Quantos inocentes pequeninos morrem na Faixa de Gaza, quantos estão morrendo neste momento na Síria e por aí vai.
Por que não há um cântico para assistirmos e sentirmos a dor destas mães?
A velha pensa e não sabe se amanhã haverá pensamento, porque poderá não acordar, porque aos 91 anos o amanhã é a incerteza de cada dia, mas ela deitou e rezou pelos pais das crianças arrancadas deles tão sem aviso, tão sem volta... e desta vez ela rezou para as crianças e os pais de todo o mundo, principalmente para aqueles que sem outra opção estão dormindo sob fogo cruzado.
Vá dormir velha, que ainda estás tão viva!
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