sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

APOLO X DIONÍSIO

Importante discutir nossa sociedade sob a ótica dos opostos Apolo e Dionísio (alguns autores chamam de Dioniso). Uma síntese: APOLO: um dos 12 deuses do Olimpo era considerado como o mais belo de todos os olímpicos. Representa a luz, a medicina, as artes e foi a divindade mais venerada do panteão grego depois de Zeus. Este deus nasceu para a luz, para o brilho. Era perfeito na lira, excelente corredor, arqueiro, era também o filho preferido de Zeus. Nasceu do relacionamento de Zeus com a titânida Leto. A deusa Ártemis, deusa da caça, era sua irmã gêmea. Apolo representa a lógica, a consciência. Não foi um deus muito bem sucedido no amor e teve filhos com ninfas e mortais. Asclépio, o pai da medicina, também conhecido como Esculápio era seu filho. Apolo era o deus da profecia e seu templo na Grécia antiga era Delfos. Era o deus que REGIA A LEI E A ORDEM. Daí chamarmos apolíneos os indivíduos que respeitam a lei e a ordem e são associados a uma certa rigidez de comportamento. DIONÍSIO (DIONISO): deus dos prazeres. São muitas as variantes sobre este mito. Ele é considerado por muitos como de origem oriental e muito antigo. Foi originalmente cultuado como deus da vegetação. Tornou-se popular como o deus do vinho e entre os romanos foi cultuado como BACO, daí as bacanais, que muitos autores associam à origem do CARNAVAL (Bacanal). Em uma das versões, ele é o mais jovem dos deuses olímpicos e o único a ter uma mortal como mãe. É filho de Zeus com Sêmele, filha do rei de Tebas. Hera, a mulher oficial de Zeus, era muito ciumenta e quando soube do envolvimento de seu marido com a mortal, convenceu a rival para que exigisse de Zeus que aparecesse a ela em toda sua majestade. Zeus, por insistência da amante, atendeu a seu pedido. Sêmele, que estava grávida, ao entrar em contato com luz tão intensa, a luz de Zeus, foi por ela fulminada. Zeus salvou seu filho, enxertando-o em sua coxa. Assim foi realizada a gestação da criança e da coxa de Zeus nasceu Dionísio. Para que Hera não prejudicasse seu filho, ele foi entregue a pais substitutos que deveriam criá-lo como menina, para ludibriar Hera. Os pais adotivos matam o menino Dionísio que depois é transformado em cabra e levado para ser criado pelas ninfas. Foi assim criado num mundo feminino e por isso com ele se identifica. As mulheres se tornaram suas adoradoras que procuravam as montanhas para reverenciá-lo com danças e muita bebida. A dança e a bebida fazem parte dos rituais a Dionísio e o êxtase da "bacanal" ou orgia ficou associado à possessão destas mulheres pelo deus. Nestas celebrações havia sacrifício de animais. A relação de Dioniso com as mulheres é extremamente erotizada e ele se envolvia com muitas mulheres e seu relacionamento com cada uma delas era intenso. Dionísio está relacionado à inconsciência e intensidade dos relacionamente, às paixões e a toda sorte de fatos relacionados à vida mundana. Ele deixava as pessoas completamente enebriadas e irresponsáveis. Era um deus associado à fertilidae da terra. Suas orgias provocavam o êxtase tanto sexual como espiritual. Para alguns estudiosos, numa outra vertente do mito, ele veio do oriente, sendo mais antigo do que os deuses do Olimpo e teria chegado à Grécia, vindo de culturas matriarcais, explicando desta forma sua vinculação intensa ao mundo feminino. Desta breve exposição entende-se com facilidade o par de opostos: Apolo x Dioniso. Apolo é um deus da cultura patriarcal. Um filho de Zeus, num momento em que historicamente se vive num mundo organizado com os valores da cultura patriarcal: a lei e a ordem do Universo. Considerando o mito em que Dioniso vem de terras mais ao oriente, muito antigo e desorganizado do matriarcado, é um deus ligado à fertilidade da terra e à volúpia. Parece que se cada deus contribuisse, cada um com metade de seu comportamento e valores na formação de cada indivíduo na Terra, teríamos seres equilibrados. Apolo, representando o senex, o velho, o antigo, o sábio e Dioniso, o louco, a criança, a essência do "puer". Uma personalidade muito "senex", apolínea seria uma personalidade muito densa, rígida representaria um risco à própria saúde do indivíduo ou uma sociedade sem nenhuma flexibilidade, sem a alegria da criança, uma sociedade não criativa. Uma sociedade ou indvíduo com características absolutas de Dioniso, que representa a criança, "puer", representaria a loucura, a inconsequência extrema seria inviável. No entanto, a interpenetração das duas características torna o indivíduo um ser capaz de brincar, se divertir em seus momentos "carnavalescos", sem perder a consciência, a responsabilidade típica de Apolo. É a criança que nos dá a leveza, a alegria indispensável, a capacidade de se arriscar, porque a criança é afoita e não tem medo de se expor a perigos, porque, como inconsciência é sua base, tanto pode criar e ser bem sucedida como perder tudo. O "senex" (que dá origem à palavra senado, senador), coloca em cada um a capacidade de julgar, de escolher com responsabilidade. Parece que boa parte de nossos jovens foi muito estimulada numa busca hedonista, com pouca capacidade de discernimento, portanto, inconsequentes, não se preocupando em nada com o coletivo. É o governo de Dioniso. De um lado, pais carentes desta experiência dionisíaca, criaram nos filhos esta polaridade em busca de compensação e projeção, dentro de uma sociedade onde a maior preocupação é estimular o consumo como forma de circulação e crescimento do capital, um capital altamente mal distibuido. Como resultado, classes menos favorecidas com filhos com desejos cada vez mais insaciáveis quanto inatingíveis, uma sociedade com suas classes média e baixa frustradas e endividada. Seus filhos, engendrados por forças tão contraditórias começam a exibir tipos como os meninos que atacaram as ruas de Londres, como os meninos da história relatada anteriormente, que desviam dinheiro de empresas através de seus brinquedos potencialemtne perigosos em mãos "puer" (os computadores). Quatro jovens do bando citado eram estudantes de engenharia. Onde estava Apolo dentro deles, para fazê-los usar o pensamento, a recionalidade, a capacidade de ponderar, de seguir normas?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

MEA CULPA: NÓS FIZEMOS ISTO COM NOSSOS FILHOS

A geração dos anos 70 não conheceu a loucura do crédito, dos cartões de créditos, tudo fácil, com ofertas que correm atrás do sujeito. Foi uma geração que conheceu a dificuldade e a falta de tudo. Até comprar livros e uniformes foi difícil em minha casa, incluindo comida e não sabíamos o prazer de termos algum artigo de luxo. Crescemos carentes de prazeres e sofisticações. Que carência! Alguns entre nós estão muito bem financeiramente, outros nem tanto, todos com muita "vontade de prazer". Na maioria somos pessoas que desempenham suas funções com excesso de responsabilidade e somos "apolíneos" e com muito desejo reprimido. Tivemos filhos e aí demos um salto no escuro. Ficamos confusos com o rigor excessivo de nossa educação e ficamos absolutamente perdidos na hora de dar limites às nossas crianças. Criamos pequenos "tiranos dionisíacos". Alguns de nós, não conseguindo satisfazer as necessidades estimuladas por todo tipo de mídia, perdidos na ânsia de criar um mundo de fantasia e sem frustrações para os pequenos, perdemos a medida. Uma quadrilha de jovens de classe média desviou em torno de dois milhões de reais com fraudes pela internet, desviando dinheiro de empresas em operações bancárias. O objetivo: CURTIR A VIDA. Alugaram uma mansão em Búzios, prostituição, tráfico de drogas e MUITO PRAZER. Ah, Dioniso, que peça pregastes em nossos egos frágeis? Estes garotos mimados não foram devidamente informados de que um dia seriam responsabilizados e pagariam de alguma forma pela "bacanal"! Esquecemos de falar para nossos pequeninos que o estudo pode dar muito prazer, que aprender é muito bom, que o trabalho pode ser gratificante, que ser correto dá muito orgulho e que viver dentro de normas e padrões de comportamento social dá paz. Que é muito bom termos desejos, mesmo que jamais possamos realizá-los, porque isto é estar vivo!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

OH DEUS, QUE ESTÁS NOS CÉUS...

Do livro: O SAGRADO E O PROFANO, de Mircea Eliade: (pg 103 a 106 ) "A história dos Seres supremos de estrutura celeste é de grande importância para a compreensão da história religiosa da humanidade como um todo." "Numa palavra, pode-se dizer que esses deuses, depois de terem criado o Cosmos, a vida e o homem, sentem uma espécie de "fadiga", como se o enorme empreendimento da Criação lhes tivesse esgotado os recursos. Retiram-se,pois para o Céu, deixando na Terra um filho ou demiurgo, para acabar ou aperfeiçoar a criação. Aos poucos, o lugar deles é tomado por outras figuras divinas: os Antepassados míticos, as Deusas-Mães, os Deuses fecundadores, etc.." "O fenômeno do "afastamento" do Deus supremo revela-se desde os níveis arcaicos de cultura." "O mesmo acontece entre a maioria das populações africanas: o grande deus celeste, o Ser supremo, criador e onipotente, desempenha um papel insignificante na vida religiosa da tribo. Encontra-se muito longe, ou é bom demais para ter necessidade de um culto propriamente dito, e invocam-no apenas em casos extremos." "Por toda parte, entre essas religiões primitivas,o Ser supremo celeste parece ter perdido a atualidade religiosa , está ausente do culto e, no mito, afasta-se cada vez mais dos homens..." "Os homens , porém, lembram-se dele e imploram-lhe em última instânciaquando fracassam todos os esforços com os outros deuses e deusas, antepassados e demônios. O "afastamento divino" traduz na realidade o interesse cada vez maior do homem por suas próprias descobertas religiosas , culturais e econômicas. Interessado pelas hierofanias da Vida, em descobrir o sagrado da fecundidade terrestre e sentir-se solicitado por experiências religiosas mais "concretas"...o homem primitivo afasta-se do Deus celeste e transcende." "A experiência religiosa torna-se mais concreta, quer dizer, mais diretamente misturada à vida." "...em casos de aflição extrema, quando tudo foi tentado em vão, e sobretudo em casos de desastres provenientes do Céu - seca, tempestade, epidemia - os homens voltam-se para o Ser supremo e imploram-lhe." "As diversas divindades que substituíram os seres supremos acumularam os poderes mais concretos e mais esplendorosos, os poderes da Vida. Mas exatamente por isso, "especializaram-se" na procriação e perderam os poderes mais sutis, mais "nobres", mais "espirituais" dos Deuses Criadores." (pg.106 a 108). Fonte:O SAGRADO E O PROFANO (a essência das religiões), Martins Fontes, São Paulo, 2008).

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

COSMOGONIA E ANTROPOGONIA (AS ORIGENS)

Do livro de Walter Boechat, em epígrafe: "Trataremos do mito cosmogônico grego, assim como relatou o poeta Hesíodo... Em sua Teogonia, fala não só da origem dos deuses e sua geração, estruturando assim a tradição guardada pelos versos da epopéia homérica, mas revela também, inspirado pelas musas, às quais reverencia, a origem do universo, criando uma verdadeira cosmogonia. Do ponto de vista da psicologia analítica de Jung o mito cosmogônico é em essência, o mito do nascimento da consciência. O cosmo existe na medida mesma em que existimos. A gênese do cosmos é a gênese da consciência." No mesmo capítulo, Boechat coloca: "... os mitologemas representarem símbolos essenciais do processo de individuação, ou do desenvolvimento da personalidade, o processo "que leva o indivíduo a ser o que realmente é". O processo de individuação inicia-se com a diferenciação do ego dos conteúdos do inconsciente coletivo, ainda durante o período uterino, quando o ego nada mais é do que ilhotas de consciência que gradualmente se coalescem, formando uma unidade cada vez mais sólida. É este processo que aparece configurado nos vários mitos cosmogônicos. Em sua Teogonia, Hesíodo canta que no início era o CAOS, o vazio primordial; depois veio Géia, a teraa, Tártaro, a habitação profunda, e Eros, a força do desejo. O Caos deu origem a Érebo (a escuridão profunda) e a NIX (noite). De Géia nasceram URANO (o céu), MONTES E PONTOS (o mar)." Boechat traça um paralelo entre o porcesso cosmogônico de Hesíodo e a tradição órfica. Coloca a presença do mundo ctônico, o telúrico e obscuro. E continua: "Em Hesíodo, a cosmogonia se desenvolve de baixo para cima, das trevas para a luz, do Caos, passando pelos titãs e gigantes, até chegar à terceira geração divina, os olipianos, regidos por Zeus, o deus luminoso do céu. A associação do inconsciente com o obscuro é imediata, assim como a luz é característica arquetípica dos processos conscientes." Discorre então sobre aspectos que ligam consciência e luz, inconsciente e escuridão. Voltando ao texto de Boechat que continua: "Urano e Géia constituem o primeiro casal parental cósmico, em coabitação perpétua. Úrano impedindo seus filhos de nascerem, os mantém no seio de Géia, qté que ao deitar-se sobre ela é castrado pelo titã Cronos, o filho caçula, que para tla faz uso de uma foice. Crono casa-se com sua irmã Réia e passa a reinar o Universo." Walter Boechat continua discorrendo sobre estas lutas míticas. Retomando ao texto: "...desde o primeiro par arquetípico do mundo, Úrano e Géia, uma interessante polarização entre o arquétipo da "Grande Mãe", Géia, ou posteriormente Réia, e os arquétipos masculinaos ùrano Crono e Zeus. O arquétipo da Grande Mãe é a matriz original, o arquétipo do inconsciente em seu aspecto estático, como lembra Jung citando Fausto, de Goethe: o reino das mães. Já Úranso, Crono e Zeus simbolizam o dinamismo do arquétipo do masculino, sempre se movendo em direção à consciência, mas se inserindo nas dimensões do espaço e do tempo.Daí constante temor da sucessão temporal, a atitude agressiva de castrações e devoramentos. Este movimento contrasta com a imobilidade da Grande Mãe, a senhora atemporal dos oráculos, imutável. O aspecto fálico, mental e penetrante do arquétipo do masculino que lhe dá também características de temporalidade." Walter se aprofunda no tema e retomas quando fala : "A cosmogonia de Hesíodo revela o drama mítico do surgimento da consciência numa série de imagens arquetípicas. Já na primeira geração divina se organiza a primeira estrutura arquetípica após o Caos das origens: são os pais do mundo, ùrano e Géia, mitologema frequentae em várias mitologias" (Lembro aqui Adão e Eva). E Boechat segue com mitos de outras culturas. E retomamos seu texto: "O matricídio e o paaricídio simbólicos são fundamentais para o gradual estabelecimento da identidade como ser separado já nos estágios inicias do processo de individuação." Boechat continua falando do proceso psicoanalítico. Termina o capítulo assim: "Devemos resgatar, portanto, as nossas cosmogonias, integrando a luz da consciência às obscuridades das origens." Do livro: A MITOPOESE DA PSIQUE (MITO E INDIVIDUAÇÃO), de Walter Boechat, pela editora Vozes, 2008.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Ainda do livro de Mircea Eliade: O Sagrado e o Profano

Da página 100: ...como o Mundo semostra aos olhos do homem religioso; mais exatamente, como a sacralidade se revela através das próprias estruturas do Mundo. É preciso não esquecer que, para o Homem religioso, o "sobrenatural" está indissoluvelmente ligado ao "natural"; que a Natureza sempre exprime algo que a transcende...já dissemos, uma pedra sagrada é venerada porque é sagrada e não porque é pedra, é a sacralidade manifestada pelo modo de ser da pedra que revela sua verdadeira essência.