terça-feira, 8 de janeiro de 2013

COSMOGONIA E ANTROPOGONIA (AS ORIGENS)

Do livro de Walter Boechat, em epígrafe: "Trataremos do mito cosmogônico grego, assim como relatou o poeta Hesíodo... Em sua Teogonia, fala não só da origem dos deuses e sua geração, estruturando assim a tradição guardada pelos versos da epopéia homérica, mas revela também, inspirado pelas musas, às quais reverencia, a origem do universo, criando uma verdadeira cosmogonia. Do ponto de vista da psicologia analítica de Jung o mito cosmogônico é em essência, o mito do nascimento da consciência. O cosmo existe na medida mesma em que existimos. A gênese do cosmos é a gênese da consciência." No mesmo capítulo, Boechat coloca: "... os mitologemas representarem símbolos essenciais do processo de individuação, ou do desenvolvimento da personalidade, o processo "que leva o indivíduo a ser o que realmente é". O processo de individuação inicia-se com a diferenciação do ego dos conteúdos do inconsciente coletivo, ainda durante o período uterino, quando o ego nada mais é do que ilhotas de consciência que gradualmente se coalescem, formando uma unidade cada vez mais sólida. É este processo que aparece configurado nos vários mitos cosmogônicos. Em sua Teogonia, Hesíodo canta que no início era o CAOS, o vazio primordial; depois veio Géia, a teraa, Tártaro, a habitação profunda, e Eros, a força do desejo. O Caos deu origem a Érebo (a escuridão profunda) e a NIX (noite). De Géia nasceram URANO (o céu), MONTES E PONTOS (o mar)." Boechat traça um paralelo entre o porcesso cosmogônico de Hesíodo e a tradição órfica. Coloca a presença do mundo ctônico, o telúrico e obscuro. E continua: "Em Hesíodo, a cosmogonia se desenvolve de baixo para cima, das trevas para a luz, do Caos, passando pelos titãs e gigantes, até chegar à terceira geração divina, os olipianos, regidos por Zeus, o deus luminoso do céu. A associação do inconsciente com o obscuro é imediata, assim como a luz é característica arquetípica dos processos conscientes." Discorre então sobre aspectos que ligam consciência e luz, inconsciente e escuridão. Voltando ao texto de Boechat que continua: "Urano e Géia constituem o primeiro casal parental cósmico, em coabitação perpétua. Úrano impedindo seus filhos de nascerem, os mantém no seio de Géia, qté que ao deitar-se sobre ela é castrado pelo titã Cronos, o filho caçula, que para tla faz uso de uma foice. Crono casa-se com sua irmã Réia e passa a reinar o Universo." Walter Boechat continua discorrendo sobre estas lutas míticas. Retomando ao texto: "...desde o primeiro par arquetípico do mundo, Úrano e Géia, uma interessante polarização entre o arquétipo da "Grande Mãe", Géia, ou posteriormente Réia, e os arquétipos masculinaos ùrano Crono e Zeus. O arquétipo da Grande Mãe é a matriz original, o arquétipo do inconsciente em seu aspecto estático, como lembra Jung citando Fausto, de Goethe: o reino das mães. Já Úranso, Crono e Zeus simbolizam o dinamismo do arquétipo do masculino, sempre se movendo em direção à consciência, mas se inserindo nas dimensões do espaço e do tempo.Daí constante temor da sucessão temporal, a atitude agressiva de castrações e devoramentos. Este movimento contrasta com a imobilidade da Grande Mãe, a senhora atemporal dos oráculos, imutável. O aspecto fálico, mental e penetrante do arquétipo do masculino que lhe dá também características de temporalidade." Walter se aprofunda no tema e retomas quando fala : "A cosmogonia de Hesíodo revela o drama mítico do surgimento da consciência numa série de imagens arquetípicas. Já na primeira geração divina se organiza a primeira estrutura arquetípica após o Caos das origens: são os pais do mundo, ùrano e Géia, mitologema frequentae em várias mitologias" (Lembro aqui Adão e Eva). E Boechat segue com mitos de outras culturas. E retomamos seu texto: "O matricídio e o paaricídio simbólicos são fundamentais para o gradual estabelecimento da identidade como ser separado já nos estágios inicias do processo de individuação." Boechat continua falando do proceso psicoanalítico. Termina o capítulo assim: "Devemos resgatar, portanto, as nossas cosmogonias, integrando a luz da consciência às obscuridades das origens." Do livro: A MITOPOESE DA PSIQUE (MITO E INDIVIDUAÇÃO), de Walter Boechat, pela editora Vozes, 2008.

2 comentários:

  1. Olá betahesse, é no inconsciente que preservamos as origens da nossa identidade...não tenhas medo de parecer louca...louco...pensa e traz o mito para a realidade...assim exorto o pensamento feminino a manifestar-se...por um novo humanismo

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  2. Que lindo! Um novo humanismo com base na alteridade é no que acredito e aposto, caro amigo. Fico lisonjeada com sua participação.

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