domingo, 30 de agosto de 2009

CANTO 81 - DE EZRA POUND

Canto 81- Ezra Pound
Tradução conjunta Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari


O que amas de verdade permanece,
o resto é escória.
O que amas de verdade não te será arrancado
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
Mundo de quem,meu ou deles
Ou não é de ninguém?
Veio o visível primeiro, depois o palpável
Elísio, ainda que fosse nas câmaras do inferno,
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
O que amas de verdade não te será arrancado

A formiga é um centauro em seu mundo de dragões.
Abaixo tua vaidade, nem coragem
Nem ordem, nem graça são obras do homem,
Abaixo tua vaidade, eu digo abaixo.
Aprende com o mundo verde o teu lugar
Na escala da invenção ou arte verdadeira,
Abaixo tua vaidade,
Paquim, abaixo!

O elmo verde superou tua elegância.
“Domina-te e os outros te suportarão”
Abaixo tua vaidade
Tu és um cão surrado e largado ao granizo,
Uma pega inchada sob um sol instável,
Metade branca, metade negra
E confundes a asa com a cauda
Abaixo tua vaidade
Que mesquinhos os teus ódios
Nutridos na mentira,
Abaixo tua vaidade
Ávido em destruir, avaro em caridade,
Abaixo tua vaidade,
Eu digo abaixo.

Mas ter feito em lugar de não fazer
isto não é vaidade
Ter, com decência, batido
Para que um Blunt abrisse
ter colhido no ar a tradição mais viva
Ou num belo olho antigo a flama inconquistada
Isto não é vaidade.
Aqui o erro todo consiste em não feito.
Todo:na timidez que vacilou.

ESTE VÍDEO MERECE UM PRÊMIO

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O MITO DE AFRODITE: DEUSA DA BELEZA E DO AMOR

Do livro: "Meditações Pagãs". Autora: Ginete Paris (acho que é assim)
"A afirmação de que a civilização é uma empreitada masculina revela nossa ignorância quanto ao trabalho de Afrodite. Certamente, se considerarmos um monumento, um friso de mármore ou uma obra-prima de arquitetura como obra de arte, considerando em contrapartida um "bordado", uma roupa, a jardinagem e a arte de amar desimportantes para a civilização, excluiremos a mulher dessa civilização e classificaremos seu trabalho como "artesanato" ou "arte decorativa", reservando a palavra de sentido mais amplo, "arte" para as produções apolíneas. De fato, há pouca diferença entre esculpir uma parede de pedra e bordar um pedaço de tecido, a não ser pelo fato de que uma é feita para durar e passar à História, ao passo que a outra é concebida para ser desfrutada aqui e agora, para refletir o Divino em seu aspecto cotidiano. A verdadeira diferença, então, está na atitude de cada um para com o tempo. A arte afrodisíaca tem a ver com tornar a vida cotidiana mais bela e "civilizada". Certamente, esta última é mais efêmera: ela se desvanece rapidamente e há, nisso, uma certa tristeza; mas o mito de Afrodite e Adonis nos ensina a aceitar e a ceder a esta tristeza, porque dela renascerá o impulso para a renovação."
Afrodite se encontra na beleza das flores, de uma mesa arrumada com o carinho estético, nos acessórios femininos. Afrodite ama os enfeites, tudo nela é intenso e passageiro, mas em tudo que ela está presente, o amor acontece.
Há no mínimo duas versões do mito de Afrodite, mas, no mais belo deles, Afrodite surge a partir dos testículos de Urano atirados ao mar por seu filho Cronos. Da espuma dos testículos nasce Afrodite, a deusa da beleza e do amor. O nome Afrodite vem de espuma, a espuma do mar. .
A escritora acha que se Afrodite estivesse mais presente, principalmente à mesa nos hospícios, muitos seriam resgatados da loucura, da ruptura com a consciência, através da beleza que traz amor.

O NASCIMENTO DE AFRODITE (POR SANDRO BOTTICELLI)


Acredite que olhando esta belíssima imagem da Deusa do amor e da beleza, Afrodite, você pode pedir a ela estes atributos, ela é generosa, e nada negará a você. Em troca, coloque uma flor em um vaso e diga que a flor é um presente seu para ela.

O MITO DE NARCISO

O mito de Narciso: você conhece?
O pai do Narciso, que era um rio, estuprou a mãe do rapaz: NASCEU O TAL DE NARCISO.
Aí tinha uma tal de Echo que morria de amores pelo moço, mas ele não aceitava amor, porque não sabia amar a não ser a si mesmo. E o desgraçado era lindo! E a Echo implorava para que ele a deixasse amá-lo. E ele não quis saber do amor da coitada. Ela não queria nada dele, seria apenas seu ECO, seu espelho, o refletiria. Mas ele não aceitou. Final da história: ela virou pedra. De tanto chorar, desidratou virou pedra, secou, morreu. Ele? Saiu procurando alguém igual a ele, mas nunca ninguém era igual, tão maravilhoso e ele, desesperado, suicidou-se. Dizem que ele só curaria de sua doença se sofresse um estupro, como a mãe, estuprada pelo rio. Final triste! Esta dupla sempre tem um final infeliz e todos viverão infelizes para sempre.

MITO DE NARCISO



O JOVEM NARCISO, AO SE VER REFLETIDO NAS ÁGUAS DO RIO, ENCANTA-SE COM SUA BELEZA E APAIXONA-SE POR SI MESMO...

domingo, 9 de agosto de 2009

Sobre Livros: Corpo Presente, de João Paulo Cuenca

Você já leu “Corpo Presente” de João Paulo Cuenca?
É algo que impressiona. Ao mesmo tempo em que não descola de uma sexualidade obsessiva, tornando difícil digerir o conteúdo, a forma é totalmente nova. É um escritor extremamente jovem e editou este livro aos vinte e cinco anos.
Vou copiar um trecho de um capítulo pra você sentir a capacidade do cara:
“Carmen me ajuda a dar significado a todas as coisas, tudo o que eu posso e não posso ver...E todo o resto do mundo, assustador ou desprezível, tudo passa por Carmen, você é a única intérprete que eu tenho. E agora que você se vai, eu preciso aprender tudo do zero. Preciso inventar uma nova linguagem porque tudo que eu disse até hoje foi em termos de você, Carmem...como se você fosse um grande filtro por onde eu tenho que passar, você se interpõe, me envolve, é minha segunda pele....
...Quando escuto sua voz ao telefone, o som fino, suas desafinações, o jeito único de articular as palavras, a voz que tanto me deu paz, que eu precisei ouvir diariamente como uma bênção, como se deus falasse comigo, agora essa voz me afaga e machuca, sangra meus ouvidos. A única religião que eu já tive foi você, Carmen...
...Tento enterrar você, não consigo...Vejo seu rosto em todos os espelhos da casa e a presença do teu corpo ainda pesa...Mesmo morta você está quente, Carmen.Eu não consigo fazer você morrer em mim...
Eu não sei mais o que é sonho nessa realidade tão estranha sem a sua voz para me ler as legendas, sem o futuro que parou de existir. Isso aqui é uma sobrevida sem alma...”


Do outro livro: O Dia Mastroianni.
“A multidão dança revezando-se em pares. Antes do fim, convoco Maria ao baile: enlaço seu corpo num passo desastrado enquanto todos do lado de fora de nós dois desbotam, perdidos noutro fuso.”
Lembra a cena de um filme: Nós que nos amávamos tanto do Ettore Scola.
Gente, é muito mágico!