domingo, 27 de setembro de 2009

CAMINHO PARA A INICIAÇÃO DO FEMININO

Um livro maravilhoso: Caminho para a iniciação feminina,de Sylvia B. Perera.
Ela é terapeuta junguiana e neste livro, aborda a mitologia mesopotâmica.
No Matriarcado: a mulher era respeitada por ser importante para a sobrevivência da comunidade.
Por quê?
Enquanto os homens iam caçar e pescar e nem sempre conseguiam trazer o alimento para seu povo, a mulher em casa cuidava dos velhos, das crianças, fazia roupas, cestarias e... cultivava os alimentos perto de casa. Garantia assim o alimento do dia a dia da comunidade.
Esta importância se refletia na religião, na família, e fazia da mulher a referência maior para sobrevivência do grupo.
Nesta forma de se relacionar com os meios de produção, vivia-se no MATRIARCADO.
A religião era uma representação do matriarcado e cultuavam as deusas enquanto os deuses ficavam mais à sombra como os homens nesta comunidade.

Tudo isto é só para explicar as diferenças entre a mitologia dos povos sumérios e outras , como por exemplo, a grega, fruto do estabelecimento do PATRIARCADO.

COMO PASSAMOS DO PATRIARCADO AO MATRIARCADO?
TUDO FOI CULPA DA DESCOBERTA DO arado.
Este é o ponto de mutação. A mulher não tem força para puxar o arado e ainda não tinham descoberto que os animais poderiam fazer isto.
O arado proporcionou imenso desenvolvimento aos povos e possibilitou o crescimento das cidades já que iniciaram o processo de produção do excedente e assim começa a história da riqueza do homem.
Tudo isto é só para explicar a sequência lógica da história da humanidade, o fenômeno humano.
Desculpem, eu sei que tudo isto é cansativo, mas é necessário para nos redescobrirmos, sabermos porque nos tornamos tão submissas ao longo dos tempos.
É... um dia fomos muito poderosas!
A mitologia do matriarcado está muito mais ligada aos instintos por ser muito mais primitiva. Vincula-se aos ciclos dos humores da mulher, tanto o ciclo biológico: ovulação x menstruação, como os longos ciclos BIPOLARES por que passam as mulheres (euforia na ovulação=fertilidade e depressão na TPM)..
Esta terapeuta/escritora defende o encontro com as deusas mesopotâmicas para a cura do feminino.
A deusa Inana (deusa BRANCA) é a deusa do céu e da terra e Erishkgal (deusa ESCURA) era a deusa do subterrâneo, do que está debaixo da terra, do mundo inferior, DO REINO DOS MORTOS.
Inana sabe que Erishkgal sofre em desespero a morte de seu amado. Inana resolve descer e conhecer sua irmã Erishkgal, mas teme a sorte dos que desceram e nunca voltaram do reino dos mortos.
Deixa uma serva e amiga responsável por procurá-la caso não voltasse após três dias. Teria que despertar todo o universo para de lá tirá-la.
INANA, DEUSA DO CÉU E DA TERRA, BRANCA, DEUSA DA LUZ, DA CONSCIÊNCIA.
ERISHKGAL, DEUSA ESCURA, VIVE DEBAIXO DA TERRA (INCONSCIENTE). O INCONSCIENTE AQUI REPRESENTA A MORTE, O SOFRIMENTO, O RISCO DA LOUCURA E DE NÃO PODER DELA VOLTAR (SE NÃO VOLTAR EM TRÊS DIAS, ME TIRE DE LÁ).
O PAR DE OPOSTOS: LUZ=INANA=CONSCIÊNCIA=VIDA
ERISHKGAL=ABAIXO= ESCURIDÃO=INCONSCIÊNCIA=MORTE=DEPRESSÃO

Esta BIPOLARIDADE é a principal característica do feminino. Falei tudo isto para poder colocar um parágrafo que achei lindo e mostra a importância de vivenciarmos todas as faces da deusa:

"É o nosso procedimento ao nos voltarmos para um afeto e intensificá-lo até encontrarmos seus vetores próprios. Ou quando examinamos uma defesa e descobrimos que sua função é preservar a vida (falamos muito mal de nossos mecanismos de defesa e lutamos para nos apartarmos deles e esquecemos que, em muitos momentos, salvaram nossas vidas). Isso pode se dar até mesmo quando consideramos a dor como parte válida do processo de vida (não como culpa de ninguém, mas simplesmente como um fato da existência). Essa atitude desvia o afeto da perspectiva adversária, do patriarcado, que busca um bode expiatório, tentando culpar as pessoas ou fatos para depois removê-los do caminho ou, então, busca um jeito de agir ativamente para "fazer alguma coisa a respeito". Considerar a dor como parte do processo amplia a perspectiva que a concebe apenas como um sinal patológico ou um estigma. Permite a empatia com o sofrimento e possibilita a cura natural. Abre caminho ao sofrimento, para gestar uma nova solução dentro de seus moldes e em seu tempo adequado. Aí a cura ocorre, não simplesmente porque se encontrou um significado ou uma imagem, mas porque se deu atenção ao processo de vida, e também presença empática e um espelhamento que a atinge de maneira irrestrita."

Inana desceu ao fundo da terra (de si mesma) viu a irmã Erishkgal sofrendo, contorcendo-se de dor e viu e viveu junto com ela a dor (espelhamento). A mulher desce (depressão), assiste a outra sofrendo, participa deste sofrimento (participação mística) e se cura.
Sua sacerdotisa e amiga, ao ver que Inana não retorna (fica deprimida além do limite, sente o perigo de que não mais retorne à luz=consciência e corre por todos os cantos em busca de ajuda para trazer Inana de volta.
O deus Enki, a quem a autora compara ao terapeuta, com sua sabedoria (a alma da mulher é o animus, representa a contraparte masculina=luz=consciência) vai ao socorro de Inana e a traz de volta à terra, curada e amadurecida.

(aguarde os próximos capítulos)....

2 comentários:

  1. Você vai encontrá-lo, PriGaia.
    Um pensador francês, cujo nome me foge agora dizia que de tanto olharmos para o objeto, um dia o objeto olha para nós.
    É preciso procurar e querer achar. Este é o caminho para o encontro.
    Agradeço sua participação.

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