domingo, 16 de setembro de 2012

ALQUIMIA E CRESCIMENTO

A partir de experiências simbólicas consigo trabalhar, através de meu imaginário, conteúdos muito profundos e dificilmente atingidos pela palavra. A trilha que escolhi foi a Alquimia. Jung, além de estudioso em diversas ciências da alma, durante 15 anos estudou profundamente a Alquimia. Sua compreensão era de que este era um dos caminhos para o auto-conhecimento. A pessoa que relata agora teve contato com princípios da Alquimia aos 11 anos de idade, de forma totalmente espontânea, tendo como bússola somente a intuição. Estou com 59 anos de idade e a Alquimia tem sido um verdadeiro caminho terapêutico na minha vida. Não tenho conhecimento teórico da área. Apenas experimentei coisas que depois percebi que em tudo remetia ao processo alquímico. Percebo a cada dia que muitas áreas de nosso inconsciente são alcançáveis pela palavra. A palavra, parece-me, surgiu num momento muito mais elaborado da vida do ser humano. Em contraponto, temos partes tão arcaicas dentro de nós mesmos que a palavra não as alcança. E por ser simbólica, portanto, mais abrangente do que a palavra, é aí que a alquimia atinge. Meus primeiros ensaios, aos 11 anos, aconteceram com o fogo, queimando papéis onde coloquei muito do meu sofrimento de pré-adolescente nascida em uma família complexa. Senti uma espécie de liberação ao ver o fogo queimando minha angústia e a partir de então descobri esta válvula e este processo como “meu”. Posteriormente, descobri que mesmo com o conhecimento teórico absolutamente ausente no meu processo, este caminho que percorria já tinha sido vivido por muitos. Encontrei hoje um trecho de um texto que penso que é do Junguiano Schwartz Salant. Não sei de onde foi tirado , mas resolvi copiar ou em alguns momentos comentar a fala do mestre psicanalista. Em uma referência à psicoterapia, fala em "campo" como o campo de interação entre analista e analisando, comparando com a idéia alquímica de "corpo sutil". Descreve um paralelo entre conhecimentos da física e o que acontece numa terapia, tentando uma simplificação para o que ele coloca. Do texto: (...) "com certeza a minha idéia de um campo interativo deve muito aos estudos de Jung. O seu modelo quaternário mostra a mesma estrutura dos diagramas de energia da física, os quais indicam uma notável capacidade de transferência de informações entre moléculas que estão em contato umas com as outras. Inúmeros níveis de energia em uma molécula podem mudar e produzir mudanças em outras moléculas. A implicação psicológica deste paralelo é que mudanças no inconsciente do analista , por exemplo, tem um efeito não só na percepção consciente do analisando, como também no seu inconsciente". Esta mesma percepção é evidente 400 anos no texto "Splendor Solis" (McLena, 1981) no qual estados aparentemente separados afetam uns aos outros num complexo padrão de transferência de informações. Imagino que o mesmo acontece em todo o campo das relações humanas e que uma mudança que ocorra em mim, provoca automaticamente uma mudança no outro. O que pretendo é mostrar que uma experiência intuitiva de vivência de conteúdos através de simbolização e que em muito lembra a alquimia pode ser uma forma de crescimento que, através da consciência de processo, provoca mudanças profundas em nós mesmos e terá reflexo em todos aqueles que nos cercam, pois que participamos todos de um mesmo "campo" quando nos relacionamos com o outro. Continuando com Salant: " (...), se reconhecemos que o universo alquímico era aquele no qual áreas normalmente invisíveis... funcionavam frequentemente como intermediárias entre o experimentador e o seu objeto e que estas áreas eram os objetos de transformação ... áreas que não eram nem materiais nem mentais, mas participavam de ambas". Entendo que esta experiência de campo é compartilhada por seres humanos, tanto física quanto psiquicamente. A meu ver, faz-se necessário que o ser que deseja transformar aspectos de uma relação consigo mesmo ou com o outro através de um trabalho de simbolização, de teatralização, se identifique com os processos que trabalha, lembrando aqui que falo de alguns modelos desenvolvidos por mim e que mostro e proponho neste blog. Somente com muita humildade posso viver um caminho que está descolado da ciência e do racionalismo proposto por nossa cultura. Sinto que é preciso desistir, dia a dia, da minha roupa velha, da minha velha personalidade e penetrar recantos de mim, abrindo mão da segurança e me permitindo conversar com níveis caóticos de minha psique.

2 comentários:

  1. será que a gente pode usar o simbolismo da queima dos palitos com sentimentos internos insistentes? por exemplo: culpa.
    no caso, nao se trata de uma culpa lógica, mas um sentimento/comportamento interno insistente. O que digo é que às vezes nao basta saber o por quê de certos sentimentos nossos já cristalizados, talvez a queima ajude a retirar/transmutar este comportamento/sentimento cristalizado?

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  2. Cada vez tenho trabalhado mais desta forma, simbolizando a mim mesma entre um palito representando o "self" e o outro, parte de mim que desejo transmutar. Tem funcionado cada vez melhor e tenho percebido que o desejo de desmontar os links tenho representado mais assim, como um desejo muito forte de mudar meus padrões reacionais, minhas velhas crenças do que alterar meu link com outras pessoas. Parece que reocnheço aos poucos que o outro é a parte de mim que quero mudar e o disfarce vai desaparecendo. Essa simbolização tem ajudado muito em minha elaboração.

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