domingo, 28 de junho de 2009

TRECHOS DO LIVRO AO MESMO TEMPO DE SUSAN SONTAG

Sobre o livro AO MESMO TEMPO, de Susan Sontag

CAPÍTULO QUE DÁ NOME AO LIVRO: AO MESMO TEMPO –Conferência Nadine Gordimer

Fala sobre o romance e o romancista. Estrutura do romance e natureza ética do romance e dever ético do romancista. Trechos escolhidos:
Sobre o terremoto que arrasou Lisboa em novembro de 1755, “...Voltaire ficou chocado diante da incapacidade de assimilar o que acontecia em outras terras. “Lisboa jaz em ruínas e aqui em Paris nós dançamos.”
“Talvez seja nossa sina ficarmos surpresos com a simultaneidade dos fatos – com a mera extensão do mundo no tempo e no espaço. Que estejamos aqui, agora, prósperos, seguros, com pouca probabilidade de dormir com fome ou de sermos despedaçados por uma explosão nesta noite... enquanto longe daqui, em outras partes do mundo, exatamente agora ... em Grózni, em Najaf, no Sudão, no Congo, em Gaza, nas favelas do Rio..”
“Um início de resposta a essa consciência dolorosa é dizer: é uma questão de solidariedade...dos limites da imaginação. Também podemos dizer que Não é “natural” ficar lembrando que o mundo é tão ... amplo. Que enquanto isso está acontecendo, aquilo também está acontecendo.
É verdade.
Mas eu responderia, é por isso que precisamos de ficção: para ampliar o nosso mundo. ”

TRECHOS DO DISCURSO QUE SONTAG FEZ NA ABERTURA DO PRÊMIO OSCAR ROMERO

“Rachel Corrie, universitária de vinte e três anos de idade, de Olympia, em Washington, assassinada com a Jaqueta amarelo-neon com faixas brilhantes usada por “escudos humanos” para ficarem bem visíveis, e talvez a salvo,enquanto tentam impedir uma das demolições quase diárias praticadas pelas forças armadas israelenses em Rafah, cidade ao sul da Faixa de Gaza (onde Gaza faz fronteira com o Egito), no dia 16 de março de 2003... Parada diante da casa de um médico palestino, selecionada para demolição, Corrie, uma dos oito jovens americanos e ingleses voluntários para a função de escudos humanos em Rafah, gritava e acenava para o condutor de uma escavadeira blindada D-9 através do seu megafone, e depois ficou de joelhos na frente de uma gigantesca escavadeira... que não reduziu a velocidade...
Não marchar ao mesmo passo que nossa própria tribo...
Não é fácil desafiar a sabedoria da tribo: a sabedoria que preza a vida dos membros da tribo acima de todas as outras. Será sempre impopular – sempre será tido como antipatriótico- dizer que a vida de membros de outra tribo tem o mesmo valor que a vida dos membros da nossa própria tribo...
Os princípios nos convidam a ter mais rigor em nossas ações, ser intolerantes com a frouxidão moral, a contemporização, a covardia e com a fuga diante do que é perturbador...
Nossa admiração maior deve ir para os bravos soldados israelense, representados por Ishai Menuchin, que se recusam a servir além das fronteiras de 1967... Esses soldados, que são judeus, levam a sério o princípio formulado nos julgamentos de Nuremberg de 1945-46: a saber, que um soldado não é obrigado a obedecer a ordens injustas, ordens que infrinjam as leis da guerra – de fato, um soldado tem a obrigação de desobedecer tais ordens...
Não pode ser certo oprimir e confinar sistematicamente um povo vizinho. É seguramente falso pensar que assassinatos, expulsões, anexações, a construção de muros- tudo aquilo que contribuiu para reduzir um povo inteiro à dependência, à penúria e ao desespero – trarão segurança e paz para os opressores...”

Obs.: este livro contém as últimas anotações de Susan Sontag, já muito doente. Parece a síntese de seu pensamento.

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